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sexta-feira, 2 de maio de 2014

"SÃO MAMEDE 60 ANOS" O ALGODÃO DE SÃO MAMEDE.

ATIVIDADES ECONÔMICAS
         "O ALGODÃO"

A atividade econômica do município em sua agricultura, era no começo de sua formação, fundamentada no cultivo do algodão mocó. Também se cultivava em grande escala as chamadas culturas de subsistência como o feijão, milho, batata doce, o arroz e a cana de açúcar. Em dados de 1956, os valores da produção agrícola já superavam a casa dos 23 milhões de cruzeiros antigos, representado por 2.645 sacos de arroz, feijão e milho, com 130 toneladas de cana de açúcar e 113.000 arrobas de algodão. Pelo exposto, vê-se a importância da cultura do algodão que aquela época já representava 95% (noventa e cinco por cento) da produção agrícola.

O auge do algodão durou vários anos, só vindo a ter uma queda significativa por volta dos anos 80. A atividade industrial foi durante muitos anos o carro chefe da economia de São Mamede. Impulsionada por sua usina de algodão, chegava a representar 80% (oitenta por cento). Com a queda significativa da produção de algodão em todo o nordeste brasileiro, a usina de São Mamede, esteve paralisada com suas atividades durante vários anos. No estágio atual o Grupo Santana do Rio Grande do Norte, com apoio da Prefeitura de São Mamede e do Governo do Estado da Paraíba, regularizou a situação da usina e gastou altos valores no processo de recuperação, deixando sua capacidade armazenada de algodão com capacidade para mais de cinco milhões de toneladas e recuperando a capacidade de produção de óleo de algodão e mamona, ressaltamos porém, que foram envidados todos os esforços possíveis pela edilidade municipal, no tocante a que dentro de suas possibilidades o retorno do funcionamento da Usina fosse feito no menor espaço de tempo possível.

Na pecuária destacamos a produção de leite e gado de corte, bastante abalada pelos seguidos anos de seca em todo semi-árido nordestino, o que levou os criadores a fazerem opção pela criação de ovinos, suínos e caprinos.

No comércio destacamos nos dias atuais o grande número de mercadinhos, farmácias e lojas de convivências, na cidade funciona uma agência do Banco do Brasil, que atende no pagamento de benefícios da previdência social, além de oferecer outros tipos de serviços disponíveis nesta casa bancária.

A principal fonte de economia do município é a agricultura, com participação de 50% a 75% da renda municipal, por fim o setor secundário, de 0% à 10%. Na agricultura destacam-se as plantações de algodão, feijão, milho e mandioca. Já na pecuária as criações de bovinos, caprinos, ovinos e galináceos, com produção de ovos.


Seu Alonso Alves (In-memoriam) 


"Um povo que assassina um passado de glória para viver um presente de submissão, certamente morrerá na eternidade". 

Mário Bento de Morais


Capítulo I

São Mamede e seu povo.

Oh! Musa filha dos deuses
Vens tocar meu pensamento,
Acendes o fogo das rimas
E despertas o meu talento,
Para eu narrar nestes versos
De um povo o sofrimento.

Vivia esse povo feliz
Na terra onde nasceu
Pobre, porém conformado...
Com o pouco que Deus lhe deu
Livre como o passarinho
Que tem por limite o céu

A paz reinava entre os lares;
A honra tinha endereço;
A jovem flor estimada,
A mulher digna de apreço,
O homem rei coroado,
O menino príncipe de berço

A velhice era divina
Símbolo de veneração
Conselheira da juventude
Guia da educação
Professora do bom senso
E mestra da tradição.

A alegria dominava
Desse povo o coração!
Tudo era festejado
Na mais completa união
Até a paz tinha inveja
Dessa Santa comunhão.

Inimigo não havia
Questão não tinha lugar,
O ódio sem ter apoio
Não podia se instalar
No peito de quem tem Deus
Como protetor do lar.

Amava a natureza
Com amizade e respeito
Conhecia, seus limites...
Impostos pelo direito,
Era um sólido legalista
Um espartano perfeito.

Trabalhava a agricultura
Principalmente, o algodão...
Ao lado da pecuária
O milho, o arroz, o feijão,
Batata doce de vazante
Completava a produção.

Porém, logo o algodão...
Ganhou espaço e mercado,
Matéria-prima de tecido
Com seu preço assegurado
Virou fonte de riqueza
Para o empresariado.

O progresso desse povo
O enchia de esplendor:
Uma agricultura pujante,
Um comércio empreendedor
Mão-de-obra em abundância
De surpreendente valor.

Com essas características
Desse povo cidadão
Aliada ao trabalho
Coragem e abnegação
Despertaram os empresários
Da cultura do algodão.

Capítulo II

O início do sonho

E no ano de 37,
Deu-se inicio a implantação
De um complexo industrial
Para beneficiar algodão
E no ano de 38,
Veio a inauguração.

Justiniano Clemente Guedes
Descaroçamento e Beneficiamento de Algodão
Era o nome da empresa
Que revolucionou o sertão,
Principalmente em São Mamede
Onde se deu a realização.

Extraordinário ser humano
E um grande empresário,
Dinâmico empreendedor,
Solicito visionário...
Realizador de sonhos
E transformador de cenário.

Depois desse grande feito
De cunho inovador,
O povo reconheceu
O extraordinário valor
Desse homem destemido
E nobre desbravador.

Com esforço e muita luta
E a participação do filho,
Conhecido por Áureo Guedes,
Pôs a empresa no trilho,
O lucro veio logo cedo
Pondo ao sonho novo brilho.

A noticia do sucesso
Da empresa foi geral,
Varreu o Estado, o País...
Foi manchete de jornal
No eixo do centro sul
E até internacional.

O filão foi descoberto
A corrida começou,
O ouro branco do sertão
Interesse despertou,
Chegaram outras empresas
E a concorrência reinou.

Instalou-se a Araújo Rique
Beneficiando algodão,
Sanbra , Clayton , Carioca
Compravam na região
Dos pequenos produtores
Toda sua produção.

Com o aumento dos negócios
Veio a implementação
Da industria algodoeira
Daqui do nosso sertão
Com benesses para uns
E para outros à exploração.

Justiniano logo entendeu
Que sozinho não enfrentaria
O poderio econômico
E a pressão que sofria,
Sem apoio e dinheiro escasso
E concorrência em demasia.

A Sanbra ditava o preço
A Araújo Rique se esforçava;
A guerra da concorrência
Era a regra que mandava
E sem apoio do governo
Que nada financiava

Com a guerra financeira
Justiniano busca um parceiro,
Aparece a C.C.P.A. ..
Com experiência e dinheiro
E o principio de uma sociedade
Foi o pensamento primeiro.

Era o inicio de 41
Quando a sociedade nasceu
Numa operação bem sucedida
Que cada lado cedeu
Um pouco nas posições
E a coerência venceu

Assim ficou distribuída
A nova sociedade,
A C.C.P.A com 90%
Teria prioridade
De colocar a gerência
Conforme a sua vontade.

Os 10% de Justiniano
Não lhe dava esse direito
De reivindicar a gerência,
Porém, o acordo e o conceito...
Fez de Áureo Guedes, gerente...
Sóbrio e de muito respeito.

De 41 a 50
A sociedade durou,
Foram nove anos de lutas
Esforço que compensou
Porém, os planos mudaram...
E o sonho se acabou.


Capítulo III

O pesadelo

Chega o ano de 51,
E o fim da sociedade,
A CARIOCA entra em cena
E com dinheiro à vontade
Compra a empresa C.C.P.A
Mudando a mentalidade.

Os 10% de Justiniano
Entra na venda legal,
O empresário deixa São Mamede
Levando o seu capital
Para em seguida comprar
Uma usina em Pombal,

Depois da compra a CARIOCA
Rapidamente se estabeleceu
Como Companhia Carioca de Algodão
Foi o nome que recebeu;
A concorrência diminui
E o negocio floresceu.

Com os concorrentes, fora,
Tratou logo de inovar,
Tirou as máquinas de serra
E pôs de rolo em seu lugar
Dando qualidade a fibra
E melhor beneficiar.

Logo, logo monopolizou...
A compra do algodão,
Incentivou a agricultura
E a economia do sertão,
Os agricultores festejavam
O desenvolvimento da região.

Fibra longa, melhor preço,
Algodão puro, mocó,
Sementes selecionadas
Chamadas de seridó,
A empresa destacou-se
Com um produto melhor.

Passou a impor e dominar
O comércio de algodão
Com uma política arrojada
E grande especulação
Sufocando as empresas
Que atuavam na região

As empresas não suportaram
E perderam a competição,
A carioca ficou só
Como dona do filão
Mas, ao invéz de melhorar...
Piorou a situação

Elitizou-se a empresa
O povo foi relegado
Diretores soberbos,
Agricultor humilhado
Foi a senha para a queda
De um sonho desejado.

O sonho vira pesadelo
De ostentação e poder,
Orgulho, imperialismo,
Escândalo, mentira, lazer...
A custa de um povo ingênuo
E condenada a sofrer.

Sem controle com os gastos,
Deslizes, enganos, má gestão,
Benefícios surrealistas
Pagamentos sem razão
Orgia com o dinheiro fácil
E péssima administração.

Essa festa perdurou
Até a década de setenta
Quando a saúde da empresa
Dá sinal que não aquenta
È o começo de uma crise
Para o inicio de oitenta.

Os anos oitenta trouxeram
A crise do algodão;
O continente africano
Entra na competição
Barateando os preços
Com a sua produção.

Os preços aqui despencaram
E também a produção;
Agricultores desiludidos
Não preparam a plantação
Preferem à capoeira
A semear algodão.

O governo brasileiro
Sem política de proteção
Abandona os agricultores
Em meio à situação
De uma crise perversa
Sem um plano de ação.

Depois de muita pressão
O governo enfim cedeu
Formulou política agrícola
E preço estabeleceu
Até a produção excedente
Comprar se comprometeu.

Mas, sem fôlego financeiro
A carioca parou
São Mamede assistiu o drama
Ninguém se manifestou
O povo saiu perdendo
Agricultura chorou.

O município empobreceu
O desemprego aumentou
Crise, fome, êxodo rural,
Migração, seca, horror,
Viúvas de maridos vivos
Foi apenas o que restou.


Capítulo IV

A CORSAME

Porém, num lance de sorte
O governo do Estado
Sentiu de perto a tragédia
E quase desesperado
Recuperou a empresa
Num jogo meio arriscado.

Foi num leilão em São Paulo
Que o Estado arrematou,
A secretaria da agricultura
Na luta se empenhou
E agora nas mãos do povo
A carioca ficou.

Novo plano se organizou
Com a cooperativa local
Formou-se uma parceria
Conseguiram capital
Como CORSAME voltou
Com grande potencial.

Reativou a agricultura
A animação chegou,
O entusiasmo do sertão
Num instante se elevou
O futuro era brilhante
Nos planos do agricultor.

Até um supermercado
Que não tinha na cidade
Foi aberto pela CORSAME
Com serviço de qualidade
Bem sortido e preço justo
Dentro da realidade.

Nessa época só a CORSAME
Tinha um supermercado,
Abastecia São Mamede,
O lucro era assegurado
Sem concorrente cresceu
Conforme o planejado.

Tudo estava dando certo
Com a empresa e a produção
Mas, do passado se esqueceram...
E eis o “X” da questão:
Alguns gênios de antigamente
Baixaram na administração.

E ainda trouxeram mais:
Insignes administradores,
Especialistas habilidosos,
Peritos e empreendedores
Gente do mais fino trato
Para lidar com agricultores.

Essa turma descobriu rápido
A utilidade que tem a mão,
Junto ao povo humilde, boa índole,
Hospitaleiro, franco irmão,
Crédulo, boa fé, presa fácil...
Para as mentes de plantão.

Organizada e competente
A atuante confraria
Altamente qualificada
Que de tudo entendia
“Menos de algodão e de povo”,
Trabalho e cidadania.

Com o nome de cooperativa
Para não chamar atenção,
Atendimento aos sócios
Ou produtores de algodão
E a turma do bem bom
Postada na administração.

E a farra veio à tona
Com mentira e enganação,
Agricultor desinformado
E pouca participação,
Lesado em seus direitos
Com escárnio e humilhação.

A cooperativa local
Pouco podia fazer
Sem forças para atuar
Junto à cúpula da poder
Imposta pela Estado,
Via tudo se perder.

Até que a CORSAME quebrou
E logo surgiu um culpado,
Foi o besouro bicudo
Dizem que foi importado
Lá dos Estados Unidos
Mas tudo está mal contado.

Outros falam em bicudo gente
Que São Mamede importou;
Ou dizem que foi a profecia
Do Frei que se realizou;
Até cometam que foi praga
Que um político jogou.

O supermercado também quebrou
E tudo sem explicação,
Quem ganhou e quem perdeu
É mera especulação
Mas, falta quem dê a resposta...
Para essa indagação.

A massa falida ficou
Presa nos grilhões da historia,
Arrebatada pela ganância
Sucumbiu antes da gloria
Lutou e nunca venceu
E morreu para a memória.


Capítulo V

O Golpe Fatal

Sem projeto e sem empenho
Dos políticos e da comunidade,
A CORSAME ficou abandonada
Exposta ao tempo, a temeridade
Dos Vândalos amantes do descuido
Filhos importantes da sociedade.

Como não houve demanda
E ninguém se manifestou
Pra resolver o problema
Da gigante que simbolizou
Tempo de prosperidade e gloria,
Sonho, esperança e esplendor.

Morrem valores incalculáveis,
Heróis omissos são importantes,
Chefe alardeia-se timoneiro
De uma nau sem tripulantes;
Povo que se nega a indignar-se
Não passa de “pobres arritirantes”.

Diante do descaso, do desprezo...
Da insensatez, da negligência...
Da falta de respeito, de amor próprio...
De dignidade, de consciência...
De responsabilidade humana
De ombridade e coerência.

Não do governo somente
Mas, de toda comunidade...
Que se lhe mostrou incapaz
De assumir-se de verdade,
Foi conivente com o caos
E lhe cabe culpabilidade.

A CORSAME não é mais do povo
E São Mamede, pobre esquecida!
Ainda com filhos de braços
Nas esquinas, desprotegida...
Esmolando migalhas de sonhos
E de alentos que lhe inspirem a vida.

Nas mãos de estranhos jaz
Do povo a santa esperança
Já que de estranho se vive
O rumo sem rumo que dança
A sombra de melão-de-são Caetano
E ali mesmo descansa.

Morre-se de fome a gente
Que pode, mas não quer se indignar;
Morre-se a comunidade sem atitude
Que vive de estranho penar;
Morre-se um povo sem história
Incapaz de ao menos pensar.

Oh! Liberdade ensina ao povo
A morrer pelo menos como canalha,
Do que viver sem orgulho, sem sonhos,
Sem brio, sem luta, sem batalha,
Sem passado, que justifique o presente,
Sem cicatriz na carne de fio de navalha.


Capítulo VI

A conseqüência.

Eu vi São Mamede chorando!
Rostos fúnebres, acabrunhados, gestos tensos.
A tristeza sem aquiescência e num ímpeto agressivo
Instala-se no íntimo do ser de um povo que ao nascer
Era irmão gêmeo da alegria e ao crescer
Subjugou-se aos grilhões do infortúnio.

Quem viu São Mamede no passado, alegre, viçosa...
Deslumbrante, com um vigor invejável...
E sempre sorrindo...
Não compreende esse aspecto pesaroso
Estampado em sua face.

Era uma guerreira
Que sabia enfrentar os obstáculos com garra
E obstinação; porém,
Relegada ao desconforto da usura dos ímpios
Sobeja-lhe lágrimas quentes como legado
De quem um dia teve a felicidade como serva.

Vendo-a triste
Volto a um passado não longínquo
Para trazer na lembrança
Os dias de glória.
Uma glória como todas as glórias:
Regado a suor e sangue dos filhos pequenos,
Espartanos delirantes escravos do brio,
Mas que, usurpada sorrateiramente por estranhos...
Niilistas pervertidos, especialistas em vida fácil.

Eu vi São Mamede chorando!
Imersa num mar de lágrimas,
Sufocando o peito para não explodir
E sem poder gritar para denunciar a dor.
Chore São Mamede, chore, mas não em silêncio!
Chore mais alto para que os filhos escutem
Os soluços incontidos e movam ao menos
O dedo mínimo, já que se fizesse pequena
Para torná-los grandes.

Chore São Mamede, chore aos brados, aos berros!
Grite novamente pelos filhos pequenos,
Com certeza, eles virão socorrê-la...
E não são como os filhos (grandes)
Que só fazem algo para você tirando-lhe alguma
Coisa em troca.

Chore São Mamede por sua aparência...
Irreconhecível e combalida;
Chore pela ociosidade subsidiada pelo filho maior;
Chore por tudo sonhado e nada realizado;
Chore pela decadência cadenciada
Que as forças lhe impuseram;
Chore pelos filhos menores, os maiores...
Esses não lhe amam;
Chore por você mesma,
Pela nudez das vestes mais linda;
Chore porque você errou
E porque continua errando;
Chore por ser mãe de uma prole desajustada;
Chore pelo amor vertiginoso
Dos que dizem que a ama,
Pelo efêmero esquecimento
Daqueles que prometeram
Trilhar a vereda dos justos
E mancharam com atitudes e gestos
Indecorosos o caminho da verdade.

Espezinharam-lhe,
Exacerbaram a loucura dos fracos
Para proveito próprio.
Mentiram-lhe.
Lá fora lhe nodoaram:
Eu vi São Mamede chorando!




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Zé Luiz Mineiro
Professor Coló
Jornalista Mario Bento

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