1702, data que já despertava o século das luzes; a Europa fervilhava. A America inquiatava-se antecedendo a Revolução Francesa. O mundo se maravilhava com os grandes inventos, as novas descobertas das ciências nos diversos ramos do conhecimento geravam perplexidade aos conservadores; a teoria gravitacional universal de Isaac Newton e o espírito de relativismo cultural incitado pela sondagem do mundo não conhecido serviram de meios para explodir o ilumínismo: uns diziam que era o fim do mundo; outros, mais afeitos as novidades sentenciavam: é o começo.
Destacavam-se entre os principais precursores do novo pensamento – século XVIII – os racionalistas, Bruch Spinosa e René Descartes, os filósofos políticos Thomas Hobbes e John Loccke; a razão humana, na época, surgira como pilastra importante, afirmando-se até que, por meio do uso sensato da razão, é possilvemente viavel um grande desenvolvimento que não alcance extremidades. Assim, muito mais do que um conjunto de ideias estabelecidas, o iluminismo representava uma atitude, uma maneira de pensar. Immanuel Kant, declarava: o lema deveria ser “atrever-se a conhecer”. Dai surge o desejo de reexaminar e pôr em questão as ideias e os valores recebidos, com infoques bem diferentes; dai as incoerências e as contradições entre os textos de seu pensadores. A doutrina da igreja foi veementemente atacada, embora a maioria dos pensadores não renunciassem totalmente à ela.
A França teve acentuado desenvolvimento em tais ideias e, entre seus pensadores mais importantes, destacaram-se Voltares, Charles de Montesquieu, Denis Diderot e Jean-Jacques Rousseau. Outros expoentes do movimento foram: Kant, na Alemanha, David Hume, na Escócia, Cesare Beccaria, na Itália, Benjamin Franklin e Thomas Jefferson, nas colonias britânicas. A experiência científica e os escritos filosóficos entraram em moda nos círculos aristcráticos, surgindo, assim, o chamado despotismo ilustrado. Entre seus representantes mais célebres encontram-se os reis Frederico II da Prússia, Catarina II, a Grande, da Rússia, José II da Áustria e Cralos II da Espanha. O Século das Luzes, ou Iluminismo, terminou com a Revolução Francesa de 1789, que incorporou inúmeras ideais iluministas em suas fases mais violentas, desacreditando-as aos olhos da mioria dos europeus contemporâneos. O Iluminismo marcou um momento decisivo para o declinio da igreja e o crescimento do secularismo atual, assim como serviu de modelo para o liberalismo político e econômico e para a reforma humanista do mundo ocidental no século XIX.
Dentro desse panorama de efervescência Iluminista, do século XVIII; o Brasil lutava com todas as forças para chegar aos mais longínguos recantos do seu território. Alguns estados ainda engatinhavam em sua organização, o interior desses estados habitado por índigênas ainda estava intacto sem a mão do homem civilizado. Na Paraíba, o homem civilizado já havia chegado em algumas regiões, montando fazendas de gados e fundando vilas. Em 1701, foi ortogada uma sesmaria em terras do atual município de Santa Luzia, lugar ainda devoluto na época, onde habitavam índios arredios e selvagens, ao Sargento-mor brasileiro entre os séculos XVII e XVIII, Matias Vidal de Negreiros – filho de André Vidal de Negreiros. Em 1702, Matias Vidal de Negreiros, os alferes Marcos Rodrigues Cabral e Manuel Monteiro chegaram aonde hoje se situa o municipio de São Mamede, ai começava a história da ribeira de São Mamede.
Dentro desse panorama de efervescência Iluminista, do século XVIII; o Brasil lutava com todas as forças para chegar aos mais longínguos recantos do seu território. Alguns estados ainda engatinhavam em sua organização, o interior desses estados habitado por índigênas ainda estava intacto sem a mão do homem civilizado. Na Paraíba, o homem civilizado já havia chegado em algumas regiões, montando fazendas de gados e fundando vilas. Em 1701, foi ortogada uma sesmaria em terras do atual município de Santa Luzia, lugar ainda devoluto na época, onde habitavam índios arredios e selvagens, ao Sargento-mor brasileiro entre os séculos XVII e XVIII, Matias Vidal de Negreiros – filho de André Vidal de Negreiros. Em 1702, Matias Vidal de Negreiros, os alferes Marcos Rodrigues Cabral e Manuel Monteiro chegaram aonde hoje se situa o municipio de São Mamede, ai começava a história da ribeira de São Mamede.
A FORMAÇÃO ECONÔMICA DO MUNICIPIO DE SÃO MAMEDE
Primeiro vamos compreender o instituto das sesmarias para podermos avaliar a nossa formação social e econômica.
AS SESMARIAS
Segundo Manuel Diegues Junior:
“SESMARIA, grande propriedade, latifúndio, qualquer que seja a palavra usada, representava a concessão de terras para a implantação de uma atividade agrária ou pastoril, o veículo pelo qual a terra foi ocupada, o meio de fixar o colonizador, de integrá-lo a terra, de desenvolver o povo, o povoamento”.
Segundo Dante Laytano – Revista do Instituto Geográfico Brasileiro – vol. XXIV.
“SESMARIA concessão de terras pela qual se dá ao sesmero o domínio de uma área variando entre três léguas em dimensão por outra de largura e uma e meia em quadra numa superfície total que se compreende entre 13.000 a 10.000 Hectares equivalentes a 3.000 braças ou 6.000 MS. Da sesmaria nascia à propriedade privada revestida das características jurídicas da doação oficial e governamental”.
SESMO, SEXMO OU SEISMO – lugar onde há sesmarias ou pertence o que foi sesmada a alguém e limitada na sesmaria.
SESMAR – partir, dividir, demarcar as terras e herdades como fazem os sesmeiros e juízes de tombo de terras ou demarcações, dividir em sesmarias.
SESMARIA – medida agrária para as superfícies, campo de criação. Havia sesmaria de campo e de mato. A de campo a área correspondia a uma légua de frente por três de fundo ou 13.068 hectares. Uma sesmaria contém 150 quadras cada légua equivale a 50 quadras, uma quadra é igual a 87 hectares ou 132 metros de frente por 6.600 de fundo. Cada quadra da sesmaria equivale a 66 braças estas iguais a 2.20 MS, de fundo e o palmo corresponde à área de 0,22 MS. + 6.000 de fundo, ou seja, 0,1452 há.
A sesmaria de mato era uma légua de frete por um de fundo.
SYNOPES DAS SESMARIAS, SEGUNDO ALCIDES BEZERRA.
ARCHIVO DA TESOURARIA DA FAZENDA DA BAHIA – VOL. XXVII.
SESMARIA
SESMO – Palavra antiga que designa a sexta parte medidas de outros tempos, a terça parte do côvado, vocábulo proveniente do latim “sex”.
“O regime das sesmarias no Brasil começou com os donatários, a quem D. João III, concedeu dar em sesmarias, as terras incultas dos donatários, aos sesmeiros os beneficiados pela munificência senhorial”. Foi na fase 15434-1549 com a chegada de Tomé de Sousa, iniciada a fase do direito territorial constando do Regimento, as terras eram dadas livremente sem foro algum, exceto o dízimo à Ordem de N. S. Jesus Cristo, sobre toda a produção granjeada. As sesmarias eram gratuitas e era favor aceitá-las porque havia formalidades a preencher como a residência, aproveitamento da cultura das terras e inalienabilidade por três anos. Durou mais de dois séculos esse regime.
O sistema de concessão de sesmarias foi modificado no século XVIII pela restrição ao direito de propriedade territorial. O sesmeiro passou a ter domínio útil em vez de plena propriedade, pagando foro anual segundo a importância da terra. D. João VI, o Reformador, deixou o dec. de 25/IX/1808 permitindo a concessão de sesmarias a estrangeiro e o Alvará de 25.1. 1809 determinou não poder passar de sesmaria sem proceder à medição e demarcação parcial.
Em 1822 pela Revolução de 17 de julho foi mandado sustar as concessões de sesmarias
respeitando os direitos adquiridos. Vem dos cuidados de D. Pedro I a colonização em novos moldes, a legislação da terra saiu dos moldes tradicionais. Como a população foi crescendo, o território foi sendo devassados pela classe dos detentores de terra sem título hábil, os meros posseiros.
respeitando os direitos adquiridos. Vem dos cuidados de D. Pedro I a colonização em novos moldes, a legislação da terra saiu dos moldes tradicionais. Como a população foi crescendo, o território foi sendo devassados pela classe dos detentores de terra sem título hábil, os meros posseiros.
Em 1850 o problema das terras foi enfrentado pelos estadistas do Império. A Lei 601 de 18 de setembro de 1850 seguida ao Regulamento nº 1318 de 30 de janeiro de 1854 dispôs que os produtores de terras eram obrigados a registrá-las dentro de certo prazo, obrigou a tirar os títulos, não podendo sem estes, hipotecar nem alienar. “Os atos jurídicos que derivaram daquelas leis agrárias estavam criando o crédito agrícola e os limites de propriedades”.
PERÍODO SEM REGISTRO HISTÓRICO – 1702 a 1762
Não conhecemos até o momento nenhum registro histórico entre 1702 a 1762. Suponhamos que nesses obscuros sessenta anos, alguém tenha se instalado na região aonde é hoje o municpio de São Mamede, para explorar as terras com a criação de gado e agricultura de subexistência. Temos uma prova importante de que Manoel Tavares Bahia, antes de receber do governo de Francisco Xavier de Miranda Henriques, a concessão da carta de data e sesmaria das terras do sitio chamado São Mamede, em 1762, alegado por ele havido por compra, mas não cita o nome do vendedor; já estava na região como sesmero não legalizado, vejam o documento seguir.
SEMARIA Nº 453 EM 19 DE SETEMBRO DE 1757
O alferes Antonio dos Santos de Vasconcelos, morador no sertão das Espinharas desta Capitania, que na ribeira do Sabugy tinha descoberto terras devolutas, que nunca tinhão sido povoadas entre a dita ribeira de Espinharas e Sabugy em um Riacho chamado do Meio, que nascia da Serra das Preacas e fazia barra no Rio Sabugy na estrada velha que das Espinharas pra o dito Sabugy e atravessa a estrada o dito Riacho do Meio, que pela do sul contesta com terras do Capitão Antonio Dias Antunes e pelo norte com terras do Capitão Manoel Tavares Bahia e pelo poente com as do defunto Antonio de Souza Marques ou seos herdeiros e pelo nascente com terras do mesmo Manoel Tavares Bahia; e porque elle supplicante carecia de terras para povoação de seos gados, pretendia três legoas de terras de comprido e uma de largo por data de sesmaria no logar confrontado, fazendo peão na mesma travessa no riacho momeado, com duas legoas para cima e uma para baixo e meia para cada banda ou como melhor conviniência lhe fizesse. Fez-se a concessão requerida, no governo de José Henrique de Carvalho. Vejam agora a Sesmaria doada a Manoel Tavares Bahia, demonstrando que ele já era posseiro no local.
SESMARIA Nº 568, DE 28 DE JANEIRO DE 1762.
Doada a Manoel Tavares Bahia
Reg. de uma Carta de Data e Sesmaria de terra de três léguas no sertão do Sabugy, passada ao sobredito.
Francisco Xavier de Miranda Henrique – faço saber que esta minha Carta de data e
Sesmaria de terras defina irrevogável doação deste proprietário todo sempre virem que me enviou a dizer por sua petição Manoel Tavares Bahia, que ele era senhor e possuidor, de um sitio de terras de crear gados vaccum cavallar na ribeira do Sabugy de que houve por compra, chamado São Mamede e para evitar dúvidas e contendas que se lhe poderão oferecer, queria que devolutas, e desaproveitadas as ilhargas do dito sítio, da parte sul as sobras do sítio Serra Branca e do Mabanga, Farinha e Pastos e Pedra Branca e por parte do poente sobras das Trincheiras e Laranjeira e da parte do norte sobras da Tapera, ficando dentro o Riacho do Papagaio e o Riacho do meio e do Jatobá, que todos fazem barra no sítio dito com três léguas de comprido e uma de largo ou fazendo da largura comprimento ou do comprimento largura, fazendo peão onde melhor conta fizer.
Sesmaria de terras defina irrevogável doação deste proprietário todo sempre virem que me enviou a dizer por sua petição Manoel Tavares Bahia, que ele era senhor e possuidor, de um sitio de terras de crear gados vaccum cavallar na ribeira do Sabugy de que houve por compra, chamado São Mamede e para evitar dúvidas e contendas que se lhe poderão oferecer, queria que devolutas, e desaproveitadas as ilhargas do dito sítio, da parte sul as sobras do sítio Serra Branca e do Mabanga, Farinha e Pastos e Pedra Branca e por parte do poente sobras das Trincheiras e Laranjeira e da parte do norte sobras da Tapera, ficando dentro o Riacho do Papagaio e o Riacho do meio e do Jatobá, que todos fazem barra no sítio dito com três léguas de comprido e uma de largo ou fazendo da largura comprimento ou do comprimento largura, fazendo peão onde melhor conta fizer.
A FORMAÇÃO HISTÓRICA E ECONÔMICA DO MUNICIPIO DE SÃO MAMEDE
ASPECTOS IMPORTAMTE À PENETRAÇÃO DO HOMEM NO SERTÃO
A fim de alargar um pouco mais a nossa compreensão sobre a penetração do homem no sertão paraibano, temos que considerar os rios como vias importantes nesse processo, que permitiam a circulação com facilidade e a disponibilidade de água facilitava sobremaneira a ocupação das margens fluviais, gerando, portanto, o “povoamento da ribeira”, isto é, a instalação de grandes fazendas de gado ao longo dos rios. As principais ribeiras do Sertão da Paraíba nos fins do século XVIII, eram as do Cariri, do Piancó, do Piranhas do Sabugy, do Patu, do Rio do Peixe, do Seridó e do Espinharas.
AS PRIMEIRAS ATIVIDADES ECONÔMICAS
Quando Manoel Tavares Bahia peticionou a Carta de data e Sesmaria de terras, deixou claro que sua atividade principal era pecuária (criação de gado) e de animais de serviços, tais como equinos, muares e asnos, utilizados como força de tração no auxílio ao trabalho pesado do sesmo. Já a lavoura como não foi mencionada no corpo do documento da sesmaria, deixa transparecer que era mesmo considerada cultura de subsistência, apesar de o sertão possuir boas terras para o cultivo dessa atividade, mas como eram áreas muito pequenas (poucas terras de baixios) não compensavam explorá-las comercialmente.
O modelo implantado na ribeira pelo sesmeiro Manoel Tavares Bahia (criação de gado) como
atividade principal, antes de lhe ser concedida a sesmaria peticionada (ver prova, a sesmaria 453 de 19 de setembro de 1757), perdurou os últimos 38 anos do século XVIII e ai em torno do início da primeira década do século XIX. A partir daí as décadas seguintes fica por conta dos sucessores do sesmeiro, que havido suas terras por herança ou vendidas a terceiro e ainda, soma-se a esses fatos a chegada de outros colonos migrantes e/ou trabalhadores, que aos poucos, o que era relativamente normal à época, dá-se introduzir na ribeira outras atividades econômicas, tais como:
atividade principal, antes de lhe ser concedida a sesmaria peticionada (ver prova, a sesmaria 453 de 19 de setembro de 1757), perdurou os últimos 38 anos do século XVIII e ai em torno do início da primeira década do século XIX. A partir daí as décadas seguintes fica por conta dos sucessores do sesmeiro, que havido suas terras por herança ou vendidas a terceiro e ainda, soma-se a esses fatos a chegada de outros colonos migrantes e/ou trabalhadores, que aos poucos, o que era relativamente normal à época, dá-se introduzir na ribeira outras atividades econômicas, tais como:
a) Plantação de algodão;
b) Plantação de cana de açúcar;
c) Exploração do minério de (xelita) ou scheelita.
- O cultivo do algodão foi se desenvolvendo aos poucos em pequenas áreas devido às dificuldades estruturais inerentes a região, tais como: inverno irregular, estradas, transportes, apoio técnico aos produtores e política de incentivo a produção. Não havia se quer nesse tempo um planejamento mínimo para o setor produtivo. O precário desenvolvimento alcançado pelo sertão na época, não foi de maneira nenhuma a custa de políticas públicas, porque os governos pouco ou quase nada fizeram pelo setor, mas pela bravura dos sertanejos, homens e mulheres valentes, capazes de desafiarem a morte para arrancar da terra a sobrevivência.
A cana de açúcar pouco se destacou como cultura estável no sertão. Um dos principais obstáculos foi à exigência de grandes extensões de terras topograficamente planas e férteis para o cultivo comercial e no sertão, isto não é possível, por que o tabuleiro predomina (terra imprópria para agricultura) e os desníveis acentuados das terras prevalecem em quase totalidade do seu território. Alguns proprietários chegaram ainda a estalar engenhos rústicos em suas propriedades, conhecemos dois que marcaram época: o da família Augusto de Araújo, na fazenda “Riacho do Tatu” e o outro da família Nery Cabral, na fazenda “Santa Fé”. A plantação da cana de açúcar nessas propriedades, geralmente se dava por trás de pequenos reservatórios d’água, açudes construídos com os esforços pecuniários dos próprios proprietários para atender as suas necessidades demandadas: a fabricação da rapadura e do mel que eram consumidos na região.
- A atividade de mineração de (xelita) ou scheelita, na ribeira do sabugy era considerada periódica para muitos trabalhares da agricultura (que também sabiam do oficio), e que após findar a colheita do algodão, em ano bom de inverno claro, ai por volta do mês de outubro ficavam sem trabalho no campo até o fim de dezembro e começo de janeiro. Daí a necessidade de procurarem, nesse espaço de tempo, alternativa de trabalho para prouver o sustento da família.
Obs. A xelita é um minério do qual é extraído o tungstênio utilizado para produção do filamento das lâmpadas incandescentes.
As três últimas décadas do século XIX foram de intensa movimentação na ribeira do sabugy:
colonos migrantes de várias ribeiras da Paraíba acudiam ao sertão: uns a procura de trabalho nas fazendas de gado, outros com alguns recursos financeiros para investir em lugares que pudessem lhes proporcionar fixação a terra e meios (espaço) que lhes permitissem desenvolver suas atividades no campo e se tornarem fazendeiros, o sonho de muitos virou realidade. Também na esteira desses extraordinários migrantes, vieram os caixeiros viajantes, negociantes ambulantes ou tropeiros, principalmente da região do brejo paraibano, que em lombos de burros, traziam dos grandes centros da época: Campina Grande e Recife, alimentos, tecidos, objetos de uso do lar e de uso pessoal para comercializarem por fazendas, ribeiras, povoados, vilas e cidades do sertão e que após percorrerem longas estradas vendendo seus produtos retornavam para os centros geralmente, carregados com peles e/ou algodão.
colonos migrantes de várias ribeiras da Paraíba acudiam ao sertão: uns a procura de trabalho nas fazendas de gado, outros com alguns recursos financeiros para investir em lugares que pudessem lhes proporcionar fixação a terra e meios (espaço) que lhes permitissem desenvolver suas atividades no campo e se tornarem fazendeiros, o sonho de muitos virou realidade. Também na esteira desses extraordinários migrantes, vieram os caixeiros viajantes, negociantes ambulantes ou tropeiros, principalmente da região do brejo paraibano, que em lombos de burros, traziam dos grandes centros da época: Campina Grande e Recife, alimentos, tecidos, objetos de uso do lar e de uso pessoal para comercializarem por fazendas, ribeiras, povoados, vilas e cidades do sertão e que após percorrerem longas estradas vendendo seus produtos retornavam para os centros geralmente, carregados com peles e/ou algodão.
Uma dessas ribeiras que recebeu um grande número de migrantes durante esse período foi São Mamede, dentre eles: Manoel Augusto de Araújo. Esse migrante dotado de uma inteligência rara e algum recurso financeiro se instalou na fazenda “Riacho do Tatu” e logo se tornou conhecido em toda ribeira e até fora dela. Sua qualidade de empreendedor e habilidade no trato com as pessoas lhe propiciou uma qualificada amizade com o Coronel Claudino da Nóbrega, importante chefe político em Soledade. Dessa frutífera amizade nasceu o viés que possibilitou o surgimento da povoação de São Mamede.
O século XIX entrava em contagem regressiva para o seu fim, e começavam a se formar as perspectivas para vinda do novo século, quando a região do Cariri paraibano foi arrebatada por uma seca desastrosa, esse fato fez o Coronel Claudino recorrer aos préstimos do amigo em São Mamede para salvar o seu rebanho. A par da situação, Manoel Augusto de Araújo tratou de providenciar para o Coronel Claudino o arrendamento de uma extensa fazenda de bons pastos na ribeira de São Mamede. Após acertos firmados entre os dois amigos, o rebanho do Coronel foi conduzido para a fazenda arrendada, sob os cuidados de um Senhor chamado de Manoel Faustino da Costa, que por sua vez foi bem recomendado ao amigo Manoel Augusto de Araújo.
Em pouco tempo de estada na ribeira estreitou-se acentuadamente uma forte amizade entre Manoel Augusto de Araújo e Manoel Faustino da Costa, que logo passaram a dividir um pensamento comum: o de criar em São Mamede uma povoação que possibilitasse comercializar a produção agrícola até então voltada para a subsistência.
As primeiras medidas que nortearam o propósito nascente foram as de construir casas em volta da capelinha já existente (o local é o mesmo onde estar à matriz de Nossa Senhora da Conceição) e uma imensa latada para realização de uma feira livre semanal (aos domingos), coberta com ramos de “oiticica” arvore frondosa abundante às margens do Rio Sabugy (o local dessa latada é hoje onde fica a Praça Coronel José Paulo Souto); portanto, foi a partir da realização desses fatos que a fazenda São Mamede tomou forma de vilarejo. De modo, que o trabalho árduo dos futuros fundadores foi recompensado e lhes rendeu ganhos relevantes em todos os aspectos, tanto moral, como histórico, social e econômico.
Assim, o despertar do século XX, sob as bênçãos confortadoras do Santo São Mamede, e ao lado de sua bonita capelinha, erguida sob os felizes auspícios e religiosidade dos valentes colonos, dos migrantes que juntos miravam as alturas para logo descobrirem as perspectivas de crescerem unidos e poderem realizar o sonho acalentado desde o início da amizade: o de fundar a vila de São Mamede. De fato, no dia 5 de abril de 1903, data em que Manoel Augusto de Araújo, fez 34 anos de idade, e ao lado do amigo/colaborador Manoel Faustino da Costa, fundaram à povoação denominada de “São Mamede”, data em que também se realizou uma missa, e a primeira feira. Manoel Augusto nasceu em 5 de abril de 1869 e faleceu aos 69 anos de idade, no ano 1938.
Notícias sobre Manoel Faustino da Costa são escassas, só temos conhecimento das mencionadas: quando da transferência do rebanho do qual ele foi o condutor e como um dos fundadores do povoado. Ao contrario de Manoel Augusto de Araújo, que se tornou pecuarista, senhor de engenho, dono de uma bolandeira ou vapor (descaroçador de algodão) e de uma casa de farinha em sua propriedade “Riacho do Tatu”, próxima à povoação e tido como o primeiro conglomerado que davam as cartas do desenvolvimento local.
Em meio às efervescências naturais da fundação do povoado e com as perspectivas de
crescimento econômico motivado pela localização e fertilidade do solo, cria-se a expectativa de um cenário muito promissor, tendo como base à pecuária, a agricultura e timidamente o comercio. De modo, que atraiu um homem que se tornaria no povoado uma das personalidades mais emblemáticas dentro do processo histórico, econômico, político e social da ribeira de São Mamede, a ponto de ofuscar a imagem dos fundadores. Essa figura se tornou tão importante que influenciou decisivamente em todos os aspectos o desenvolvimento da povoação: era o aguerrido comerciante/agropecuarista Coronel José Paulo Souto.
crescimento econômico motivado pela localização e fertilidade do solo, cria-se a expectativa de um cenário muito promissor, tendo como base à pecuária, a agricultura e timidamente o comercio. De modo, que atraiu um homem que se tornaria no povoado uma das personalidades mais emblemáticas dentro do processo histórico, econômico, político e social da ribeira de São Mamede, a ponto de ofuscar a imagem dos fundadores. Essa figura se tornou tão importante que influenciou decisivamente em todos os aspectos o desenvolvimento da povoação: era o aguerrido comerciante/agropecuarista Coronel José Paulo Souto.
OBS. Não temos conhecimento se José Paulo Souto participou ativamente da fundação do povoado, suspeitamos que sim, mas não há provas documentais. Outro fato que chamou a nossa atenção durante as conversas/pesquisas com antigos moradores, foi à possibilidade do Coronel José Paulo Souto não ter vivido o suficiente para assistir a povoação passar à categoria de Vila por força do Decreto Federal nº 311, de 02 de março de 1938, por que morrera antes.
Em 1906, século XX, o Escritor/Historiador Coriolano de Medeiros esteve no povoado de São Mamede pela primeira vez e, colheu a história de um fato que acontecerá antes da sua estada (não sabemos precisar o mês e o ano), envolvendo um Sírio conhecido como Felipe Salomão morador da povoação, e cangaceiros que tentavam surpreender por assalto um delegado de sangue quente, e que não se intimidou com a ação dos bandidos e reagiu respondendo ao fogo inimigo, auxiliado apenas por sua filha que lhe municiavam as armas de fogo para responder o ataque. Segundo Coriolano, foi graças à intervenção enérgica do Sírio que os criminosos bateram retirada sem concretizar o ato criminoso. É importante lembrar que esse Sírio Felipe Salomão, personagem da historia a seguir, morava na casa onde funcionou antigamente a maternidade Nossa Senhora da Conceição, hoje funciona uma creche, e a casa que o Delegado morava quando recebeu o ataque dos criminosos, é a mesma onde hoje mora Alonso Araújo (Alonso de seu Afonso). Eis o que escreveu o Historiador Patoense em 1930.
VILA DE SÃO MAMEDE-PB, EM 1930.
HISTÓRIA DO SÍRIO SALOMÃO
Trecho transcrito na íntegra do relato do Escritor e Historiador CORIALANO DE MEDEIROS
SÃO MAMEDE - Em julho de 1930, passava eu em São Mamede, risonha povoação do município de Santa Luzia do Sabugy. Fiquei admirado com o progresso do lugar e, mentalmente, o recordei, transportando-me ao ano de 1906, quando ali estive pele primeira vez. Nesse tempo, São Mamede se compunha de duas ou três casas de taipa e telhas e de uma grande latada de ramos de oiticica, bem a margem da estrada que comunica Santa Luzia a cidade de Patos. Sob a latada e no leito da futura via pública, se realizava, semanalmente, uma feira. Esta se incrementou tanto que, em pouco tempo, se acomodava dentro de uma verdadeira povoação. Atualmente esta conta, além de pequenas travessas, uma grande praça marginada de casas no centro da qual se ergue quase concluída, uma igreja ampla de boa arquitetura, possui ainda duas ruas principais de regular edificação. Numa delas se ergue um par de vivendas elegantes em estilo moderno, revelando que o seu construtor tinha recursos, gosto e amor a terra. Eram propriedades de um Turco - O Sírio Salomão que as edificou com os lucros de sua profissão de comerciante. Levaram-me a ver uma fábrica de facas de ponta e punhais, porém o que mais me chamou a atenção foi o acabamento das bainhas, trabalho caprichoso e delicado, a cargo de uma família sertaneja composta de marido, mulher e filhas. De volta daquela rústica oficina, mostraram-me numa casa abandonada os vestígios de um ataque de cangaceiros a um delegado de policia. O Assalto se deu à noite, mas a vítima não se acorvadou. Apenas auxiliado por uma filha que lhe carregava as armas de fogo, resistiu entrincheirado na sala de visitas. Depois, as portas da rua foram estilhadas a bala, recuando os dois para um quarto de alcova aonde continuaram a desesperada resistência. Os Facínoras gozavam a agonia das vitimas que ninguém, nem mesmo os vizinhos, que ficavam a parede e meio, ousava socorrer. Mas o turco SALOMÃO, que estava fora do povoado, tomou chegada a sua casa e, resolutamente abriu um fogo de flanco contra os assaltantes. Estes redobraram a violência do tiroteio e gritaram para o turco olha que são sessenta cabras e Salomão no seu português aperreado respondia arrogante intervalando o pipocar do seu rifle.
- é bouco!
- São sessenta cabras, turco, sessenta!
- É bouco... É bouco!
E o tiroteio foi tão cerrado e tão seguro que os cabras abalaram em retiradas, salvando-se o delegado e a filha cujos nomes lamento ter esquecido. Salomão, verdadeiro elemento do progresso local era admirador exaltadíssimo de João Pessoa.
São Mamede está em excelente posição topográfica revelando-se muito promissora por seu trato comercial. Foi fundada em 1903, por Manoel Augusto de Araújo e em 1762 era fazenda de criação pertencente a Manoel Tavares Bahia.
São Mamede - julho de 1930
Coriolano de Medeiros
SÃO MAMEDE A PARTIR DE 1900
A primeira década do século XX - podemos classificá-la como estruturante e promissora à
ribeira porque tornou possível a ascensão da fazenda São Mamede à categoria de povoado. Segundo Coriolano de Medeiros (...). Fiquei admirado com o progresso do lugar e, mentalmente, o recordei, transportando-me ao ano de 1906, quando ali estive pele primeira vez. Nesse tempo, São Mamede se compunha de duas ou três casas de taipa e telhas e de uma grande latada de ramos de oiticica, bem a margem da estrada que comunica Santa Luzia a cidade de Patos. Sob a latada e no leito da futura via pública, se realizava, semanalmente, uma feira (...). Um fator marcante nesse processo foi à efetiva realização da atividade comercial (a feira livre aos domingos) desde a primeira, que segundo informação de antigos moradores, foi um grande sucesso que atraiu centenas de pessoas das ribeiras de todo Vale do Sabugy, das Espinharas, do Cariri Paraibano e parte do Rio Grande do Norte, tais como da região dos Quintos em Equador, de Ipueira e de São João do Sabugy.
ribeira porque tornou possível a ascensão da fazenda São Mamede à categoria de povoado. Segundo Coriolano de Medeiros (...). Fiquei admirado com o progresso do lugar e, mentalmente, o recordei, transportando-me ao ano de 1906, quando ali estive pele primeira vez. Nesse tempo, São Mamede se compunha de duas ou três casas de taipa e telhas e de uma grande latada de ramos de oiticica, bem a margem da estrada que comunica Santa Luzia a cidade de Patos. Sob a latada e no leito da futura via pública, se realizava, semanalmente, uma feira (...). Um fator marcante nesse processo foi à efetiva realização da atividade comercial (a feira livre aos domingos) desde a primeira, que segundo informação de antigos moradores, foi um grande sucesso que atraiu centenas de pessoas das ribeiras de todo Vale do Sabugy, das Espinharas, do Cariri Paraibano e parte do Rio Grande do Norte, tais como da região dos Quintos em Equador, de Ipueira e de São João do Sabugy.
Com base ainda, nas informações dos antigos moradores, durante muito tempo a feira realizada na povoação sob a latada coberta com ramos de “oiticica”, superava em muito a realizada em Patos, pela grande procura e variedade de produtos oferecidos. Assim disse Coriolano de Medeiros (...). Sob a latada e no leito da futura via pública, se realizava, semanalmente, uma feira. Esta se incrementou tanto que, em pouco tempo, se acomodava dentro de uma verdadeira povoação (...). De modo, que nos leva a interpretar que o desenvolvimento da época, embora tímido, já se materializava de forma palpável com alguma sustentabilidade.
A pecuária ainda era o porto seguro por esse tempo associada ao cultivo do algodão, a agricultura de subsistência e outras atividades ligadas ao meio que complementariam de forma relativamente positiva a economia local. Uma dessas atividades que aos poucos se tornou realidade, mas por um período curto na povoação e talvez só durante as décadas de 20 e 30, foi à implantação de um “engenho para produção de rapadura” por Manoel Augusto de Araujo, em sua fazenda “Riacho do Tatu”. Já a bolandeira (descaroçador de algodão) e a casa de farinha viveram um pouco mais, até meados da década de 40.
No inicio da segunda década do século XX, a povoação de São Mamede, mesmo diante das dificuldades inerentes às mudanças da paisagem do habitat natural, das transformações da flora com graves danos a fauna, as quais impostas pelas ações efetivas do homem e outras de ordem econômica e social, já dispunha de alguma estrutura mais ou menos evoluída. Isto se deveu: a vontade dos colonizadores de desenvolver a ribeira; as constantes movimentações dos migrantes, considerando a participação dos caixeiros viajantes e dos tropeiros, que atuavam nas feiras livres e que passavam informações sobre regiões e bolsões pontuais com choques relevantes de comercio, o que acarretou considerável fôlego à povoação com a vinda de migrantes com potencial e um relativo poder aquisitivo.
Numa dessas levas de caixeiros viajantes/tropeiros/migrantes originários do brejo paraibano, dois chegaram ao povoado recém-fundado como outros tantos, audazes, desbravadores, felizes, tangendo seus burros carregados de mercadorias – utilidades para o lar e tecidos – eram eles: Justiniano Clemente Guedes, natural do Cardoso, região de Campina Grande (pai de Áureo Guedes) e Antonio Luiz de Lima, natural de Puxinanã – PB (Antonio Caixeiro). Hábeis na arte do comercio, trabalhadores que logo se tornaram conhecidos por toda ribeira do sabugy principalmente, no meio econômico e social, aponto de despertarem a atenção da argúcia vivaz do experimentado comerciante/agropecuarista coronel José Paulo Souto, que os apoiou.
O apoio do Coronel José Paulo Souto, aos migrantes amigos de jornada deu motivos para que ambos ali se estabelecessem de acordo com suas possibilidades e gozo efetivo de algumas benesses do protetor. De forma que, não tardou muito para que cada um seguisse seu próprio rumo: Justiniano Clemente Guedes desposou Marinha filha do agropecuarista Manoel Alves da Nóbrega, conhecido na ribeira por Neco de São Nicolau e foi morar na propriedade do mesmo nome. Ali na fazenda e ao lado da família da esposa, nasceu o seu primeiro filho Áureo Clemente Guedes (Seu Áureo), no dia 07 de abril de 1914, de forma que, ai nesse paraíso bucólico, Justiniano viveu até o fim da década de 20, transferindo-se em seguida com a família para cidade de Patos. No novo endereço, Justiniano procurou de pronto desenvolver uma atividade que lhe gerasse renda, e com recursos próprios montou uma bolandeira (descaroçador de algodão) na Rua 18 do forte, permanecendo ai até o ano de 1936, porque no ano de 1937 deu início a construção da DBA (Descaroçamento e Beneficiamento de Algodão), em São Mamede, vindo concluir a construção e inaugurar a empresa no ano de 1938.
Antonio Luiz de Lima, permaneceu no povoado
A assim, aos poucos de acordo com investimentos alocados com os esforços do próprio migrante/colono, a colonização da ribeira ia se consolidando, ocupando os espaços com as fazendas de gado, principal modalidade econômica da época, deixando a desejar os experimentos de outras culturas que não se expandiram por: deficiência do solo; seca; falta de tecnologia capaz de equacionar os problemas do campo; área alagada que permitisse a cultura do arroz, enfim, o campo produtor se alargava apenas dentro do limite cultural adquirido nas experiências dos antepassados; mesmo assim o homem se fixava a terra.
A terceira década assistiu de mãos atadas à derrocada da cana de açúcar e dos engenhos na povoação de São Mamede, em compensação viu florescer a ascensão prodigiosa da cultura do algodão, a qual se denominou entre os sertanejos de “ouro branco”.
Todos os Prefeitos de São Mamede
Misael Augusto
1954 a 1955
Inacio Bento
1955 a 1959
Manoel Miguel de Araujo
1959 a 1963
Antonio Bento
1963 a 1969
Agenor Rique
1969 a 1973
Nilson Oliveira
1973 a 1977
Otacilio Bento
1977 a 1982
Dé Pinicaca
1983 a 1988
Francisco das Chagas
1989 a 1992
José Joacio
de 1993 a 1996
Francisco das Chagas
2000 a 2004
Pedro Barbosa
2005 a 2008
2009 a 2012
ATUAL PREFEITO
Francisco das Chagas
2013 a 2016
Eva Bezerra
Vice Prefeita
2013 a 2016
HINO DO MUNICÍPIO DE SÃO MAMEDE
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